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Nós e os relacionamentos


Há efectivamente uma diferença entre o que queremos e o que necessitamos.

Às vezes é uma diferença simplesmente... gigante.

Ouço muitas histórias. Histórias de vida, histórias reais, histórias de pessoas de carne e osso, como eu e como tu.

E realmente há uma constante: ouvir o quanto tantas vezes não chega à nossa vida o que queremos.

O quanto tantas vezes o que acontece é surpreendente. Às vezes também aparentemente absurdo e sem sentido.

Sabes, tenho muitas dúvidas em relação à nossa capacidade de sabermos o que é efectivamente melhor para nós.

Não o digo por uma pretensa sensação de humildade, ou por desvalorizar a nossa inteligência e lucidez.

Não.

Digo-o apenas porque muitas vezes achamos que o que é melhor para nós é o que nós queremos.

E tantas vezes, o que é melhor para nós não é o que nós queremos, porque o que nós queremos pode não ser o que nós precisamos.

Vamos lá a um exemplo, concreto, e também comum.

Vamos imaginar que eu quero muito viver um novo relacionamento. É fácil de imaginar, certo?

Quero encontrar uma pessoa de sonho, que pense, sinta e viva como eu. Alguém que cuide de mim, que me coloque em primeiro lugar. Alguém que largue tudo para estar comigo e que esteja sempre disponível para mim.

Bom, não sei o que te parece a ti, que lês isto, mas sei que é o sonho (ou a ilusão!) de muitas pessoas! :)

Digamos então que o que eu quero é alguém assim.

No entanto, no próximo relacionamento em que entro, já com este desejo, encontro uma pessoa em nada semelhante à minha descrição de sonho.

Encontro uma pessoa sim atenta às minhas necessidades, mas também às suas. Alguém que me diz que não, que me mostra os seus limites, que me "ensina" que cuidar de nós surge sempre em primeiro lugar. Alguém que não está sempre disponível para mim porque tem uma vida para viver e porque às vezes é necessário estar indisponível para o mundo, para poder estar 100% dedicado aos seus processos.

Como será que eu reagiria a isso? Como reagirias tu? Dirias que a vida te estava a trazer o que tu querias, ou não?

Agora vamos a um outro extremo... :)

Que encontro uma pessoa totalmente focada em si, que me cobra e me tenta controlar, que pretende que eu satisfaça as suas necessidades o tempo todo, e que espera de mim a perfeição. E agora? Era isto que eu queria? Seria isto que eu necessitava?

Eu diria que se eu realmente tivesse todas aquelas vontades, talvez o que eu realmente necessitasse fosse de trabalhar a minha auto-estima, a minha capacidade de cuidar de mim, de ser autónoma e independente, de traçar os meus limites, de dizer que não. De me amar em primeiro lugar, de cuidar das minhas feridas, actuais, do passado (ou ainda mais antigas do que isso) que me colocaram no local emocional onde me encontro agora. Surgir alguém como eu desejava, ia obrigar-me ou facilitar-me essas aprendizagens?

Não me parece. Aliás, muito pelo contrário... Seria muito mais provável que se tal acontecesse, eu viesse a tornar-me ainda mais dependente e mais voltada para o outro, em vez de pensar em mim.

Então o que poderia acontecer neste caso?

O que poderia acontecer (e tantas vezes acontece) é a Vida trazer-nos uma pessoa radicalmente diferente do que nós queremos. Porque é exactamente isso que necessitamos. O que necessitamos para que possamos fazer as aprendizagens necessárias àquele momento de vida. Para lidar com aquelas feridas que estão activas e a solicitar um novo olhar, um novo cuidado.

E depois? Deverei eu então aceitar esta "segunda" pessoa que utilizei neste exemplo? Bom, eu não sei. Mas sei que mais do que o que nós queremos, tendemos a atrair à nossa vida pessoas que estão em afinidade connosco. E às vezes essas pessoas têm exactamente as mesmas dificuldades e aprendizagens a fazer que nós. E muito dificilmente serão essa pessoa perfeita ao nossos olhos. Ainda que sejam efectivamente a pessoa perfeita naquele momento, para que possamos trabalhar e aprender o que necessitamos!

O que fazer então? A mim parece-me que o ideal é arrumarmos a nossa casa interna primeiro.

Cuidarmos das nossas feridas. Aprender a suprir as nossas necessidades. A reconhecê-las e assumi-las antes de mais internamente!

Fazermos o nosso trabalho de casa.

Pararmos de projectar no outro e parar de colocar nele a responsabilidade pela dor que sentimos, e pela satisfação das nossas necessidades.

Não é, nem nunca poderá ser o outro o responsável pela felicidade na nossa vida.

Esse lugar de responsável, só nos compete a nós!

E uma coisa para mim é garantida: mesmo quando não sabemos o que estamos a precisar de trabalhar em nós, a Vida vem e mostra-nos.

Como? Olha para as pessoas que estão na tua vida. Olha para as dificuldades que sentes na tua relação com elas. Pergunta-te que pontos sensíveis elas tocam ou activam em ti.

Os relacionamentos devem ser talvez a maior escola da vida!

Cada pessoa, oferece-nos um presente: a possibilidade de nos descobrirmos, de nos conhecermos melhor, de olhar para aspectos que dificilmente veríamos se estivéssemos sozinhos no mundo.

E as nossas feridas, as nossas dores... são como setas que nos sinalizam o caminho mais importante que precisamos tomar, na direcção de nós mesmos.

E digo-te, apesar de nem sempre ser fácil... vale muito a pena percorrê-lo!

Cristina Gomes

Licenciada em Psicologia | Psicoterapeuta Multidimensional | Terapeuta de Florais de Anura, Regressão e Reiki

www.cristinagomesterapias.com

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