A Coragem de mergulharmos na nossa Dor *
O que fazemos quando nos dói?
Olhamos para fora?
Procuramos culpados?
Procuramos desculpas?
Procuramos formas de fugir e/ou aliviar a nossa dor?
É curioso observar como parece haver um mecanismo de fuga que muito rapidamente é activado quando algo nos dói.
Na verdade, o nosso corpo físico está programado para isso mesmo: se tocamos algo quente, por exemplo, de imediato o corpo responde retirando o dedo. É automático. É instintivo. É também essencial. O nosso corpo está programado para nos defender da dor e assim permitir a continuidade da vida. Sem que qualquer decisão consciente tenha de ser tomada nesse sentido. Ele simplesmente faz o que tem de ser feito, para além da nossa vontade, atenção ou consciência.
Mas e quando a dor é emocional?
Quando a dificuldade é interna?
Muitas vezes acabamos por, mesmo sem nos apercebermos, agir da mesma forma.
Queremos simplesmente evitar a dor.
Não pretende neste texto discutir se é o melhor ou não, se é adequado ou contraproducente. O que pretendo é oferecer outra possibilidade.
Em muitos processos terapêuticos que acompanho, e nos meus próprios processos internos, muitas vezes percebo este padrão: a fuga.
Quando queremos fugir da dor, ou simplesmente parar de a sentir, podemos fazer imensas coisas.
Se é ou não o mais adequado, volto a dizer, não sei.
Mas... parece-me que se de facto queremos curar o que activa aquela dor emocional, temos mais vantagem em mergulhar nela.
Perceber que as situações, ou o outro, estão apenas a ser mensageiros da vida, e a auxiliar-nos nesse processo de entrar em contacto com as nossas fragilidades, os nossos pontos de dor, a nossa sombra.
Se nos lembramos disso ficará muito mais fácil não cair na tendência de julgar ou responsabilizar o outro pelo que estamos a sentir.
Como eu sempre digo... se me dói é porque é meu.
O outro pode até vir e tocar na ferida... mas se nos dói... é nosso.
Vamos ter a coragem de olhar para esse ponto?
Perceber de onde vem essa dor?
Levarmo-nos ao ponto em que essa ferida foi criada?
E quais os gatilhos que provocam a sua activação?
Quando o fazemos, estamos na verdade a abrir caminho para a cura que precisamos de viver dentro de nós.
Para a libertação desse padrão.
Claro que nem sempre este processo é imediato!
Aliás... raramente é.
Mas afirmarmos essa vontade e esse compromisso interno de nos curar...
Encarando e abraçando antes de mais as nossas fragilidades...
Pode ser um ponto excelente por onde começar.
E se não conseguirmos fazê-lo sozinhos...
Procurar ajuda profissional pode ser também uma excelente possibilidade.
Cristina Gomes - Psicoterapeuta
cristinagomesterapias.com